sábado, 9 de maio de 2020

OS DOIS LADOS DA MESMA MOEDA


A Pesquisa Social Brasileira mostrou que Roberto DaMatta esta certo em muitas de suas afirmações:  o Brasil é hierárquico, familista, patrimonialista e se encaixa em vários outros adjetivos que significam arcaísmo, atraso. Porem, há uma ressalva importante a fazer. O país não é um bloco monolítico, mas uma sociedade profundamente dividida.

O Brasil, na verdade, são dois países muito distintos em mentalidade. Dois países separados, num verdadeiro apartheid cultural. O que está em jogo são valores em conflito, e, por conseguinte, uma sociedade em conflito. Enquanto a classe baixa defende valores que tendem lentamente a morrer ou a se enfraquecer, a classe alta mantém-se alinhada a muitos dos princípios sociais dominantes nos países já desenvolvidos.

Não há um lado certo e outro errado. Há, sim, um lado dominante em lenta erosão – o das classes baixas -, e outro ainda pouco presente, mas que tende a se fortalecer à medida que a escolaridade média da população aumentar. Sim, porque entre os fatores que determinam esse abismo entre brasileiros, um dos mais importantes é a escolaridade. É a educação que comanda a mentalidade.

Quem passou pelos bancos escolares de uma universidade e obteve diploma tende a ser uma pessoa moderna: impessoal; contra o jeitinho brasileiro; contra punições ilegais,  como linchamento e o estupro, na cadeia, de criminosos condenados pelo mesmo crime; refratária à crença de que o destino está completamente nas mãos de Deus; e a favor de confiar mais nos amigos.

No entanto, como a maior parte da população brasileira tem escolaridade baixa, pode-se afirmar que o Brasil é arcaico. Assim, a mentalidade de grande parte de sua população obedecerá às seguintes características:

·        Apoia o “jeitinho brasileiro”;

·        É hierárquico;

·        É patrimonialista;

·        É fatalista;

·        Não confia nos amigos;

·        Não tem espírito público;

·        Defende a “lei de Talião”;

·        É contra o liberalismo sexual;

·        É a favor de mais intervenção do Estado na economia;

·        É a favor da censura;

Óbvio, não?

Não. Não tão obvio assim. Trata-se de probabilidades que valem para um amplo leque de questões. De sexo à corrupção, passando por uma crença fatalista no destino, é bem provável que alguém com curso superior completo seja a favor de praticas sexuais variadas, ou de sexo entre pessoas do mesmo gênero, e se escandalize quando denuncias de corrupção de políticos, muitas delas comprovadas, são “esquecidas” pela população que acaba reelegendo os denunciados.

O contrário também é verdadeiro. Para a população de baixa escolaridade que apoia a quebra de regras patrocinadas pelo “jeitinho brasileiro”, há também uma tendência em mostrar-se tolerante com a corrupção. Para muitas dessas pessoas, não há “esquecimento” das denúncias; elas simplesmente não são importantes. Da mesma forma, também é grande a probabilidade de encontramos nesse grupo opiniões contrarias a quaisquer variações do ato sexual, limitando ao sexo genital entre um homem e uma mulher.

É essa a conclusão que se pode tirar; a enorme distância que separa – em termos de visão de mundo, mentalidade, cultura – os dois grupos sociais em que nós, brasileiros, nos dividimos. Somos diferentes em tudo.

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