A Pesquisa
Social Brasileira mostrou que Roberto DaMatta esta certo em muitas de suas afirmações:
o Brasil é hierárquico, familista,
patrimonialista e se encaixa em vários outros adjetivos que significam
arcaísmo, atraso. Porem, há uma ressalva importante a fazer. O país não é um
bloco monolítico, mas uma sociedade profundamente dividida.
O Brasil, na
verdade, são dois países muito distintos em mentalidade. Dois países separados,
num verdadeiro apartheid cultural. O que está em jogo são valores em conflito,
e, por conseguinte, uma sociedade em conflito. Enquanto a classe baixa defende
valores que tendem lentamente a morrer ou a se enfraquecer, a classe alta mantém-se
alinhada a muitos dos princípios sociais dominantes nos países já desenvolvidos.
Não há um
lado certo e outro errado. Há, sim, um lado dominante em lenta erosão – o das
classes baixas -, e outro ainda pouco presente, mas que tende a se fortalecer à
medida que a escolaridade média da população aumentar. Sim, porque entre os
fatores que determinam esse abismo entre brasileiros, um dos mais importantes é
a escolaridade. É a educação que comanda a mentalidade.
Quem passou
pelos bancos escolares de uma universidade e obteve diploma tende a ser uma
pessoa moderna: impessoal; contra o jeitinho brasileiro; contra punições
ilegais, como linchamento e o estupro,
na cadeia, de criminosos condenados pelo mesmo crime; refratária à crença de
que o destino está completamente nas mãos de Deus; e a favor de confiar mais
nos amigos.
No entanto,
como a maior parte da população brasileira tem escolaridade baixa, pode-se
afirmar que o Brasil é arcaico. Assim, a mentalidade de grande parte de sua
população obedecerá às seguintes características:
·
Apoia
o “jeitinho brasileiro”;
·
É
hierárquico;
·
É
patrimonialista;
·
É
fatalista;
·
Não
confia nos amigos;
·
Não
tem espírito público;
·
Defende
a “lei de Talião”;
·
É
contra o liberalismo sexual;
·
É
a favor de mais intervenção do Estado na economia;
·
É
a favor da censura;
Óbvio, não?
Não. Não tão
obvio assim. Trata-se de probabilidades que valem para um amplo leque de
questões. De sexo à corrupção, passando por uma crença fatalista no destino, é
bem provável que alguém com curso superior completo seja a favor de praticas
sexuais variadas, ou de sexo entre pessoas do mesmo gênero, e se escandalize
quando denuncias de corrupção de políticos, muitas delas comprovadas, são “esquecidas”
pela população que acaba reelegendo os denunciados.
O contrário também
é verdadeiro. Para a população de baixa escolaridade que apoia a quebra de
regras patrocinadas pelo “jeitinho brasileiro”, há também uma tendência em
mostrar-se tolerante com a corrupção. Para muitas dessas pessoas, não há “esquecimento”
das denúncias; elas simplesmente não são importantes. Da mesma forma, também é
grande a probabilidade de encontramos nesse grupo opiniões contrarias a
quaisquer variações do ato sexual, limitando ao sexo genital entre um homem e
uma mulher.
É essa a
conclusão que se pode tirar; a enorme distância que separa – em termos de visão
de mundo, mentalidade, cultura – os dois grupos sociais em que nós,
brasileiros, nos dividimos. Somos diferentes em tudo.
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