Na semana passada foi negada pela ANVISA a importação da
vacina Sputnik V, entenda o motivo técnico que levou tal decisão e tire as
vossas conclusões.
Entre os motivos para invalidar a liberação está o suposto
risco à segurança em razão do uso de adenovírus replicantes na composição da
vacina.
Adenovírus é o vírus causador do
resfriado em humanos. Eles são usados como vetores virais em pelo menos quatro
vacinas contra o coronavírus utilizadas no mundo
- CanSino
- adenovírus serotipo 5 (Ad5)
- AstraZeneca/Oxford
- adenovírus de chimpanzé
- Janssen (Johnson & Johnson)
- adenovirus serotipo 26 (Ad26)
- Gamaleya
(Sputnik V) - adenovírus sorotipo 5 e 26
Em todas elas, os
adenovírus são inativados, ou seja, perdem sua capacidade de se multiplicar no
organismo humano.
Tipo de vacina
existente contra a COVID-19
Existem 14 vacinas aprovadas no mundo contra a COVID-19.
Outras 184 estão em desenvolvimento, das quais 91 em fase de testes clínicos,
segundo a OMS.
Esses imunizantes podem ser classificados em três categorias:
1ª Geração
São as vacinas consideradas clássicas, que usam um vírus, no
caso o Sars-Cov-2, inativado ou atenuado para gerar a resposta imune. Ou seja,
são micro-organismos que são capazes de se replicar.
É o caso da CoronaVac.
2ª Geração
São vacinas produzidas com proteínas dos vírus que são
reconhecidas pelas defesas do corpo.
É o caso da americana Novavax.
3ª Geração
São as vacinas genéticas, como da Pfizer/BioNtech, e as
vetorizadas, como a de Oxford. No primeiro caso, o imunizante é feito com material
genético do vírus. As vetorizadas utilizam um vírus enfraquecido que transporta
os genes virais para dentro das células, desencadeando a reação imunitária.
O que são
adenovírus replicantes
Todas as vacinas contra o coronavírus licenciadas atualmente são de vetores
não replicantes, e os vetores mais utilizados neste tipo de vacina são os
adenovírus. Isto é, para evitar que o vírus do resfriado se multiplique no
organismo humano, o adenovírus é modificado geneticamente, e parte de sua
estrutura responsável pela sua multiplicação é retirada. Com isso, o adenovírus
se torna não replicante ou de replicação deficiente.
Na vacina de Oxford, a escolha de compor o imunizante com
adenovírus de chimpanzés não é em vão. Por ser um vírus que causa resfriado nos
primatas, não em humanos, é mais um fator de segurança, embora ele também seja
inativado durante sua composição.
Um imunizante que usa adenovírus causador de resfriado em
sua composição precisa comprovar que eles estão inativados, sem a capacidade de
se multiplicar no organismo humano.
No que a Sputnik V
difere das outras vacinas
Entre todas as vacinas contra a Covid-19 já registradas no
mundo, a Gam-COVID-Vac (nome oficial da Sputnik V) é a única desenvolvida com dois adenovírus, nomeados
de D-26 e D-5, aplicados um em cada dose, o que pode ser considerado duas
vacinas em uma.
Na primeira dose, o D-26 leva a proteína S para dentro das
células humanas, o que causará uma resposta do sistema imunológico, que começa
a criar defesa contra a proteína e, consequentemente, anticorpos contra o
coronavírus.
Na segunda dose, 21 dias depois, entra em cena o D-5, outro
adenovírus que fará o mesmo papel, mas, ao mesmo tempo, tende a ser o
diferencial mais assertivo do imunizante. Isso porque, segundo cientistas, por
ter duas ‘fórmulas’ diferentes, essa vacina pode ajudar a produzir mais
anticorpos contra o coronavírus e ser a responsável pela alta eficácia contra o
vírus Sars-CoV-2.
Fontes: Renato Kfouri, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) e João Viola, presidente do Comitê Científico da Sociedade Brasileira de Imunologia (SBI), Camila Neumam.
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