A Universidade de Oxford, no Reino Unido, afirmou nesta
quarta-feira (23/06) que lançou um novo estudo sobre os efeitos do medicamento
antiparasitário ivermectina contra a covid-19 no âmbito de um estudo com o
objetivo de ajudar pacientes a se recuperar da doença em ambientes não
hospitalares. Os pesquisadores também querem determinar possíveis danos
causados pelo medicamento.
Batizado de Principle (Princípio), o estudo apoiado
pelo governo britânico já mostrou que os antibióticos azitromicina e
doxiciclina eram, em geral, ineficazes num estágio inicial da covid-19.
"Ao incluir a ivermectina num estudo de larga escala
como o Principle, esperamos gerar evidências robustas para determinar quão
eficaz é o tratamento contra a covid-19 e se há benefícios ou malefícios
associados ao seu uso", afirmou o pesquisador Chris Butler, colíder do
estudo.
Sem eficácia comprovada contra a covid-19 até o momento, o
uso da ivermectina segue não sendo recomendada pela Organização
Mundial da Saúde (OMS) e autoridades reguladores da União Europeia e dos
Estados Unidos. Ainda assim, o tratamento com o medicamento vem sendo promovido
em alguns países, entre eles o Brasil, Índia e a África do Sul.
Estudos realizados até agora com a ivermectina como
possível tratamento contra a covid-19 são considerados pequenos ou de baixa
qualidade.
Evitar hospitalizações
A equipe da Universidade de Oxford responsável pelo estudo
Principle afirmou que um dos motivos de ter selecionado a ivermectina para
testes foi o fato de o fármaco estar disponível globalmente e ser
relativamente seguro. O medicamento é usado contra piolhos e sarna e no
tratamento de doenças parasitárias como oncocercose, elefantíase, pediculose,
ascaridíase e escabiose.
A ivermectina é o sétimo tratamento a ser investigado
no Principle, e está sendo avaliado juntamente com o medicamento antiviral
favipiravir. De acordo com a emissora britânica BBC, a ivermectina será
ministrada pessoas com mais de 50 anos e sintomas da covid-19 para
verificar se ela é capaz de evitar hospitalizações.
Pessoas com condições hepáticas graves, que tomam o
medicamento anticoagulante varfarina ou outros fármacos que se sabe que
interagem com a ivermectina, serão excluídos do estudo.
Segundo a Universidade de Oxford, a ivermectina resultou
numa redução da replicação do coronavírus em testes de laboratório – mas a BBC
ressalta que foram usadas doses muito mais altas do medicamento do que seriam
ministradas em pacientes. Além disso, um pequeno estudo piloto apontou que
ministrar o medicamento na fase inicial da doença poderia reduzir a carga viral
e a duração dos sintomas em alguns pacientes com quadros moderados de covid-19.
No Brasil, a ivermectina é um dos medicamentos promovidos
insistentemente pelo presidente Jair Bolsonaro como parte do chamado
"tratamento precoce" contra a covid-19, ao lado da cloroquina e da
hidroxicloroquina, que estudos já mostraram ser ineficazes contra o
coronavírus. Os remédios foram incluídos no chamado "kit covid",
distribuído pelo governo e prescritos por alguns médicos por todo país.
No fim de abril, a Justiça Federal em São Paulo proibiu que
o governo Bolsonaro fizesse campanhas, em qualquer meio de comunicação, para
promover o chamado tratamento precoce ou "kit covid” contra a
covid-19, com medicamentos sem eficácia comprovada contra a doença.
Ao recomendar, no fim de março, que a ivermectina não
seja utilizada no tratamento de pacientes com covid-19, a OMS disse que o
medicamento só deveria ser utilizado no contexto de testes clínicos contra o
coronavírus.
Segundo a organização, havia poucas evidências de que o
fármaco tenha efeito benéfico em termos de diminuição da mortalidade,
ventilação mecânica, internação hospitalar, tempo de hospitalização e carga
viral. A OMS afirmou que o fato de uma droga ser barata e amplamente
disponível não justifica seu uso e que seu benefício permanecia
obscuro.
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