— Não dá para colocar em dúvida a vacinação como um meio
efetivo para o controle da pandemia. Ter uma politização do assunto por meio do
líder da nação, que traz elementos que muitas vezes colocam em dúvida...
Enquanto coordenadora do PNI, preciso de apoio favorável à vacinação. Quando o
líder da nação não fala favorável, a minha opinião pessoal é que isso pode
trazer prejuízos — disse.
Francieli disse que pediu exoneração do cargo depois que “a
politização do assunto chegou a um limite”. Ela afirmou que, durante a gestão
do PNI, não recebeu do Poder Executivo vacinas suficientes e campanhas
publicitárias efetivas para assegurar a imunização da população.
— Por que o maior programa de vacinação do mundo teve
dificuldades em executar o seu papel? Faltou quantitativo suficiente [de
vacinas] para uma execução rápida e faltou campanha publicitária. O PNI,
estando sob qualquer coordenação, não consegue fazer uma campanha exitosa sem
vacinas e sem comunicação. Para um programa de vacinação ter sucesso é simples:
é necessário ter vacinas e campanha publicitária efetiva. Infelizmente, não
tive nenhum dos dois.
A enfermeira coordenou o PNI de maio de 2019 até o início
desta semana. Francieli reconheceu que “existia um cenário de escassez mundial”
de vacinas. Mas disse que o PNI organizou um plano para iniciar a campanha de
vacinação mesmo com um número reduzido de doses, atendendo inicialmente a
grupos prioritários.
— Em junho de 2020, a gente avaliou que inicialmente
precisaria, para controlar a transmissão, de um quantitativo de 55% de
cobertura vacinal, que poderia variar até 95%. A gente sabia naquele momento
que poderia enfrentar um cenário de escassez. Então, a gente fez um segundo
cenário trazendo grupos prioritários para iniciar pelas populações mais
vulneráveis — afirmou.
Francieli disse que, desde julho de 2020, participou de
reuniões técnicas com representantes das vacinas Pfizer, AstraZeneca e Covaxin.
O PNI emitiu notas técnicas em que recomendava a compra dos imunizantes, desde
que autorizados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Todas
as notas foram encaminhadas ao então secretário-executivo do Ministério da
Saúde, o coronel Élcio Franco. No entanto, segundo ela, “as vacinas não
chegaram”.
A ex-coordenadora do PNI assegurou não saber se as notas
técnicas que recomendavam a compra dos imunizantes chegaram ao então ministro
da Saúde, general Eduardo Pazuello, ou ao presidente da República. Mas o
relator da CPI da Pandemia, senador Renan Calheiros (MDB-AL), criticou a
postura de Jair Bolsonaro no episódio.
— Nesse exato momento, o governo estava recusando as ofertas
da Pfizer, da Organização Mundial da Saúde [OMS] e do Butantan. Desdenhava da
eficácia das vacinas, sobretudo daquelas que tinham compliance, que
tinham controle. Preferia priorizar as negociações de vacinas tipo essa
Covaxin, que tinha inclusive um atravessador. Em janeiro deste ano, o
presidente da República surpreendentemente manda uma mensagem ao primeiro
ministro da Índia pedindo para comprar 20 milhões de doses [da Covaxin]. Ora,
se tivessem andado as negociações a partir da Pfizer, da OMS e do Butantan,
teríamos tidos ainda no ano que passou uma oferta de quase 170 milhões de doses
— criticou.
Fonte: Agência Senado
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