Perdeu, mas não tão feio. Caiu de pé. Com mais esta
bizarrice, Bolsonaro obteve apoio de 45% dos deputados presentes à votação. Só
pra lembrar, 1/3 já é suficiente para impedir o processo de impeachment e o
cara conseguiu mais ao colocar no centro da pauta política uma não-questão,
fazendo uso, como de praxe, de mentiras, falsificações, declarações golpistas
com o objetivo final de liquidar a democracia do país, culminando naquela
parada militar ridícula, fonte de descrédito explorada por toda imprensa
internacional.
Na realidade a base de Bolsonaro é uma gelatina e com o
desastroso índice de quase 60% de rejeição nas pesquisas como candidato à
reeleição não resta alternativa ao chefe do executivo que não governa, fazer
barulho e se manter como firme aliado das FFAA brasileiras para se perpetuar no
poder, o que me faz lembrar a operação Beco sem saída da década de 80, exposta
no período da redemocratização, quando Bolsonaro teve a intenção de explodir
quartéis para colocar a culpa na esquerda.
Hoje o motivo é parecido, e diante dos conflitos atuais, dos
processos que o cercam, Bolsonaro retoma a polêmica sobre o papel moderador das
FFAA, afirmando ter apoio militar total às suas decisões. A tese do tresloucado
presidente foi rebatida por decisão do STF que assentou que a “missão
institucional das FFAA é a da defesa da pátria, na garantia dos Poderes
Institucionais e na garantia da lei e da ordem que NÃO ACOMODA o exercício de
poder moderador entre os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário”. Ainda de
acordo com o ministro Luiz Fux, que concedeu uma liminar a uma ação do PDT para
esclarecer as atribuições dos militares, de acordo com a Constituição Federal,
a chefia das FFAA, que cabe ao Executivo, É PODER LIMITADO, excluindo-se
qualquer interpretação que permita sua utilização para intromissões no
independente funcionamento dos outros Poderes. Ou seja, esse papel moderador
foi abolido em 1988, com a Carta Magna, lei máxima do país que traça os
parâmetros do sistema jurídico e define os princípios e diretrizes que regem a
organização e funcionamento de sociedade democrática.
Hoje ninguém mais se engana. Se já não cabe aos Comandos
Militares cuidarem da segurança pública, muito menos é seu papel o de governar.
Em nenhuma democracia madura do mundo isso acontece. Pelo contrário, em países
sérios, democráticos são muito bem definidas as linhas que separam as FFAA e o
governo de plantão, uma vez que se trata de instituições de Estado.
Os comandantes das três forças que aí estão, se fossem
sérios, teriam publicamente cortado as asas do presidente em qualquer
referência feita por ele a possíveis manobras “fora das quatro linhas da
Constituição”, ainda que no plano mais delirante das ideias para agitar seu
“cercadinho" ou sua base ideológica. Exemplos não faltam para comprovar
que embarcaram numa aventura política, apoiando os arroubos autoritários do
chefe do executivo, inclusive se manifestando em áreas que absolutamente lhe
dizem respeito. O resultado não será outro, a não ser uma marca vexatória na
história das FFAA brasileiras.
E o mais triste, cada malfeito apagará a imagem construída
pós-redemocratização do país e o protagonismo que os militares tiveram na
política externa, quando participaram de iniciativas conjuntas com o Itamaraty
visando à proteção geopolítica do Brasil na América Latina e no Oeste Africano,
elevando o seu status junto à ONU ao liderarem missões internacionais de paz.
Hoje o que assistimos é a associação direta a um governo que conduz uma
diplomacia medíocre e subserviente cada dia mais isolada da geopolítica
internacional, principalmente com a eleição de Joe Biden.
Assistimos também mais de 6 mil militares ocupando cargos
civis dentro do Governo, ausência de profissionalismo, a corrupção solta nas
mais diversas áreas e patentes militares, equipamentos obsoletos e pouca
eficiência para defender os 25 mil km de fronteiras, sendo 10 mil marítimos.
A única resposta que consigo imaginar a tal “im” postura das
FFAA é a influência orçamentária obtida com a liberação de 115 bilhões este ano
e os generosos vencimentos concedidos a militares para aceitaram fazer parte
desta palhaçada – alguns deles superando a casa dos 100 mil reais mensais, como
no caso dos Generais Heleno, Braga Netto e Luiz Eduardo Ramos.
Resta-nos esperar que os militares, ao menos, assegurem a
realização do pleito eleitoral de 2022, bem como o respeito ao seu resultado,
seja ele qual for, haja vista a criminosa agitação já iniciada pelo presidente
e seus pares para tumultuar o processo político e as próximas eleições.
PS. Tive que alterar o texto e a foto porque o anterior teve
censura prévia do Facebook. E durma com um barulho deste! Vai vendo!
Texto: Ana Lucia Vacchiano
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